O futebol como um fenômeno da cultura brasileira

As coisas só acontecem por acaso, necessidade ou vontade nossa! Epicuro - filósofo.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Espaço acadêmico_JORNALISMO ESPORTIVO


Desde o dia onze de julho de 2011 (ver textos), este espaço no blog está franqueado aos meus alunos da disciplina de Jornalismo Esportivo, que leciono no curso de Comunicação Social da Universidade Federal da Paraíba. Aqui, o internauta vai poder conferir a produção dos melhores alunos do curso, através de matérias produzidas como exercício da citada disciplina. As duas matérias que seguem, abaixo, foram as duas melhores produzidas no semestre 2012.2, como trabalho prático da cobertura de uma partida de futebol, válida pelo campeonato paraibano deste ano de 2013. Boa leitura!
 
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Belo sai vencedor, mas o embate não foi bonito...



Por Juliana Freire 
 
 
Jogadores do Belo, Hércoles e Diego Sousa, comemoram junto com a torcida a vitória em cima do Treze

Aos poucos os pais iam chegando de mãos dadas com os filhos, mulheres roendo as unhas, menininhas vestidas não de rosa, mas de alvinegro, pintando o “sete” nos degraus da arquibancada. O som dos gritos de guerra ecoava forte e imperativo nos arredores do estádio José Américo de Almeida Filho. Radialistas para lá e para cá ziguezagueavam atrás de entrevistados pela lateral do gramado. Era dia de clássico na tarde do dia 14 de abril, na Capital. E Deus naquele domingo ensolarado parecia ser pessoense.



Juliana Freire, 22 anos, é bailarina
e graduanda do 8º período do curso de Jornalismo da UFPB
A trave mantivera o resultado conquistado ainda no primeiro tempo. Fim de jogo: 1 a 0 para o Botafogo, em cima do Treze.
Às 17 horas havia tido início o embate entre os clubes na disputa pela sétima rodada do segundo turno do Campeonato Paraibano. Ambos já classificados para a fase final, prometiam um jogo menos acalorado do que o de costume. Nada disso. As torcidas cobravam bom desempenho. O Belo, apesar de ter sido o campeão do turno inicial do Campeonato, vinha de três derrotas consecutivas e ocupava a lanterna da segunda fase. O Galo da Borborema, vice-campeão do primeiro turno, também não vinha bem das pernas, com apenas dois pontos a mais do que o adversário, além de ter perdido por 2 a 0 do CSP, no último jogo.
O clássico, então, voltava a prometer. Torcedores clamavam por isso e o clima esquentava das arquibancadas rumo ao campo. Aos três minutos do primeiro tempo, Diego Silva lançou a bola para Wanderlei, que marcou o primeiro gol do Botafogo. Torcedores do Belo em festa. Dona Ana Maria da Silva não cabia no próprio sorriso. Ela via lá do alto, na arquibancada, seu filho em campo e comemorava o passe que seu menino tinha deixado nos pés do autor do gol. A alegria durou pouco, embora o orgulho de mãe permanecesse para além do término da disputa. Gol ilegal. O juiz marcava impedimento e o jogo seguia tal qual começou, com o mesmo placar.
O grito vibrante de dona Ana Maria foi externado, para alegria dos torcedores do Belo, mais uma vez alguns minutos depois. Com cerca de meia hora de jogo, Éverton aproveitou o rebote proveniente de um escanteio e balançou a rede adversária. Os trezeanos se revoltaram fora de campo e provocaram os botafoguenses. Momento de conflito nas arquibancadas, que logo foi cessado. Em campo, porém, a briga crescia. A bola rolava e a cada esbarrão dos jogadores um cartão amarelo lançado ao alto. Foram oito destes e dois vermelhos para os brigões Léo Breno, do Galo, e Hércules, do Botafogo, que esqueceram que o jogo se disputava com os pés e começaram a lutar MMA. Dez em campo de cada lado num jogo truncado e de muitas paralisações por faltas. O novo gramado do Almeidão, única parte já concluída da reforma por que passa o Estádio, não foi suficiente para fazer a bola deslizar em campo.
 






Disputa de bola na área do Botafogo em jogo fraco tecnicamente
As chances de mudança no placar, no entanto, eram frequentes. Nos minutos finais do primeiro tempo, o Treze quase empatou. O jogador botafoguense Doda, contudo, fechou a trave e salvou o Belo na linha do gol. No segundo tempo, o Galo da Borborema voltava mais agressivo ao jogo. Era bola na trave, bola sobrando na zona de perigo do Botafogo. O ídolo do Belo, o artilheiro Warley, que estava apenas assistindo ao jogo devido ao machucado ainda não recuperado na parte superior da coxa, esboçava inquietação com seu time na arquibancada. Parece que a vontade que lhe assolava era de resolver de uma vez o jogo para o Botafogo, o qual corria grandes riscos de sofrer um gol a qualquer momento. Levando as mãos dos botafoguenses à cabeça, Palhinha cobrou falta para o Treze. Os 9.100 torcedores presentes no Estádio acompanharam o trajeto da bola para dentro da rede. Bola a gol. Pausa. Havia um goleiro no meio do caminho. A muralha Genivaldo agarrava todas para o desespero dos trezeanos. Não teve jeito: a disputa foi vencida pelo time da casa.
Para Marcelino Rodrigues, torcedor do Galo da Borborema, seu clube jogou melhor do que o Botafogo no segundo tempo. “Pena que não ganhamos. Mas vamos conquistar a vitória do Paraibano”, afirmou confiante. Em contrapartida, Ronaldo Adriano, botafoguense roxo, disse que o Belo mereceu a vitória e destacou o centroavante Diego Silva - aquele mesmo, o filho de Dona Ana Maria - como o grande nome da partida.
O prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, que também é torcedor do Botafogo, ponderou nos elogios destinados ao Belo e revelou que seu clube quase o “mata do coração”. Cartaxo apontou o goleiro Genivaldo como o melhor jogador do clássico. “Nosso goleiro fechou a gol”, finalizou.
Conclusão da partida: com o resultado de 1 a 0, o Belo saiu da lanterna e possui a melhor classificação geral. O Treze, por sua vez, só não ocupa a última posição agora porque o Nacional de Patos perdeu para o Atlético no final de semana e tem saldo de gols inferior. Tanto o time sertanejo, como o Galo possuem seis pontos na tabela de classificação.
 
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BOTAFOGO VENCE O CLÁSSICO TRADIÇÃO EM JOGO ‘FRACO’
 
 
Por Grazielle Uchôa
 

          Diego Sousa não marcou, mas saiu de campo comemorando uma boa atuação pelo Belo
 Tudo começou quando Antônio de Abreu e Lima (Tonico), na época Conselheiro do Botafogo-PB, ao vibrar com um gol do time gritou “BELO” com tanta intensidade e fervor que levou o resto dos torcedores a gritarem o adjetivo junto com ele.  Neste domingo (14), milhares de botafoguenses, a maioria sem saber de onde o apelido carinhoso surgiu, gritavam com igual ebulição, empurrando o time da capital desde antes do início da partida. Não qualquer partida. O adversário da sétima rodada da segunda fase do Paraibano era o Treze, maior rival do clube no estado, que acabou voltando para casa beirando a lanterna do campeonato após ter perdido o jogo pelo placar de 1 a 0.

 

Grazielle Uchôa, 21, é  aluna do o 8º período de Jornalismo (UFPB)
A torcida alvinegra foi ao Estádio “Almeidão” - que está em reformas, mas foi liberado para o clássico com parte de sua capacidade - munida de cruzes e caixões que representavam o clube campinense e disposta a gastar toda potência das suas cordas vocais com canções que exaltassem o Botafogo e com xingamentos e muitos palavrões que insultassem e provocassem o adversário. 







Em termos objetivos, a disputa não valia muita coisa. Botafogo e Treze entraram em campo já classificados para a fase final do Estadual (já que o Belo foi campeão simbólico e o Treze vice da primeira fase), mas como dizem os próprios jogadores, “clássico é clássico”, “rivalidade é rivalidade” e “o que vale é os três pontos”. Por isso, a torcida não quis saber das campanhas inexpressivas de ambos os times nesta segunda etapa, e o que importava de fato era a vitória – se possível esmagadora - sobre o rival. Antes mesmo do apito inicial, as provocações já atiçavam os ânimos no estádio. Um torcedor do Treze, no setor das cadeiras cativas, agitava uma bandeira do galo e cantava solitário as canções do seu time, quando botafoguenses que estavam na arquibancada sombra, logo abaixo das cadeiras, sentiram-se provocados e iniciaram um tumulto, conseguindo, inclusive, tirar a bandeira das mãos do torcedor e rasgá-la antes que a polícia se interpusesse entre os setores e controlasse a situação. O clima de animosidade estava posto. E, claro, se assim não fosse, não estaríamos falando da maior rivalidade futebolística da Paraíba.
Quando o árbitro Renan Roberto apitou o início da partida, as provocações entre as torcidas não mais importariam. Dali em diante, eram 11 contra 11, quem se impusesse mais sob o adversário sairia com os três pontos e deixaria o rival no fim da tabela de classificação. Foi o que aconteceu com o Galo, que agora soma 6 pontos, acima apenas do Nacional de Patos na tabela, contra os 7 do Botafogo que, com a vitória de domingo, deixou a lanterna da competição. O Bota espera ter deixado também a má fase, já que vinha de uma sequência de três derrotas, com aproveitamento de apenas 22,2% em seis jogos. Na primeira fase, teve 81% em 14 jogos. Mesmo com desfalques importantes, como o atacante Warley, o meia Gil Bala e o zagueiro Thuran, o clube da capital conseguiu segurar o Treze e resistiu aos momentos de pressão do Galo, hora por sorte, hora por eficiência da defesa alvinegra.
E por falar em eficiência, foram raros os momentos em que ela tomou a vez nos lances. Aqueles que disseram que até os pernas de pau jogariam bem no tapete que está o gramado do Almeidão, depois de ver o Clássico tradição deste domingo, devem ter mudado de ideia. Embora tenha havido alguns bons lances de perigo em ambas as áreas, o jogo foi marcado por muitas faltas, deficiência técnica e uma infinidade de erros de passe dos dois lados. No primeiro tempo, o Botafogo foi mais à frente, teve mais posse de bola, mas pecou na qualidade do passe, por isso não conseguia se organizar quando passava do meio de campo em direção ao gol do Galo. O resultado disso foi que o gol do Belo acabou saindo aos 28 minutos, por um lance de bola parada. Após cobrança de escanteio de Fábio Neves, o goleiro Beto defendeu para o Treze, mas a bola sobrou na área e Éverton, escalado como titular de última hora, após o desfalque de Thuran, converteu para o Botafogo e garantiu a vitória do time pessoense.
O lance de destaque do primeiro tempo foi o que resultou, aos 33 minutos, na expulsão dos jogadores Hércules e Léo Breno, que se estranharam na pequena área do Treze. Após ser empurrado, Hércules, volante alvinegro que voltava de suspensão, esmurrou Léo Breno, zagueiro treziano. O episódio esquentou o clima da partida e incendiou as torcidas. Contudo, com dez jogadores de cada lado e com o campo muito grande, trabalhar o passe se mostrou ainda mais necessário e ainda mais deficiente. Assim, a expulsão dos jogadores tornou ainda mais evidente as debilidades técnicas dos dois times.
Na segunda etapa, o jogo permaneceu tecnicamente sofrível, no entanto, um pouco mais equilibrado. O Treze teve boas chances de empatar a disputa, mas por sorte do time da casa, nenhuma delas se concretizou. Foi por pouco. Palhinha cobrou uma falta no ângulo direito de Genivaldo, mas o goleiro, que jogou no sacrifício, com dores no joelho, não aceitou e fez a melhor defesa da partida, espalmando a bola para fora. Depois dos 16 minutos, o Bota melhorou e passou a buscar mais o segundo gol, mas quando chegava à área adversária, no mano a mano, faltava qualidade para as finalizações. Já no fim do jogo, Deivid Modesto, lateral direito que estreava como reforço do Galo, soltou um chutaço no travessão. Acabara aí as chances do clube campinense de levar pelo menos o empate para casa. Após o último susto, a torcida botafoguense se inflamou e logo a festa tomou conta. Torcedores, jogadores e comissão técnica respiraram aliviados, ao menos por hora, pelo fato de o time ter voltado a vencer, afinal, chegar à fase final do campeonato bem, ganhando, é importante para a autoestima dos jogadores, e será determinante na sua postura dentro de campo.
O próximo desafio do Botafogo é contra o CSP, na quinta-feira, no estádio da Graça. Já o Treze enfrenta o atual líder da competição, o Auto Esporte, na quarta-feira, também na Graça.
 



 

 

 

 

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