O futebol como um fenômeno da cultura brasileira

As coisas só acontecem por acaso, necessidade ou vontade nossa! Epicuro - filósofo.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Copa da África do Sul - 6º dia

Chile estréia, domina, mas não se impõe contra Honduras

Valdívia, ex-Palmeiras, esperança de bom futebol na equipe chilena
Vindo de um segundo lugar nas Eliminatórias da América do Sul (ficando atrás apenas do Brasil, o primeiro), o Chile fez um jogo em que não confirmou as esperanças dos seus torcedores para esta Copa. Fez apenas 1 a 0 contra a fraca Honduras, que tem apenas duas participações em copas do mundo: em 1982, onde ficou em 18º lugar e essa da África do Sul onde parece que veio para passear. A seleção chilena teve o domínio de toda a partida, mas seu ataque não conseguiu traduzir esse domínio em números, confirmando mais uma vez a fraca atuação dos atacantes nessa Copa do Mundo. Para se ter uma idéia, a única chance real de gol, no segundo tempo, foi protagonizada por um zagueiro: o central Ponce, que obrigou o goleiro Valladares, de Honduras, a fazer a melhor e mais difícil defesa da copa até aqui. Mesmo o gol do Chile foi marcado invonluntariamente pelo atacante Beausejour, após uma tentativa da defesa hondurenha em cortar um cruzamento na sua área de perigo. Na sequência, a bola bateu na coxa do chileno e entrou para o gol. O técnico argentino, El Loco Marcelo Bielsa, não conseguiu mudar as coisas com as substituições que fez e os chilenos ficaram mesmo com o magro 1 a 0, placar chato e assaz repetitivo deste mundial.  Nem Suazo, o artilheiro das eliminatórias, nem Valdívia, o craque da equipe em quem os chilenos apostam toda as fichas, fizeram uma partida para alimentar espectativas otimistas. Acho, entretanto, que mesmo assim, os chilenos se classificam junto com a Espanha para a próxima fase do mundial. Mas ficarão só nisso, a julgar pelo futebol da estréia da sua equipe na África do Sul. Veremos, pois! GRUPO H: Espanha, Chile, Suiça e Honduras.

Pela primeira vez como favorita na Copa, Espanha desmente expectativas:
  perde para a Suiça

Antes de comentar esse jogo, precisamos respirar... E olhar os números da Copa porque esta foi a última partida da primeira rodada do mundial. Portanto, já devemos ter o que dizer sobre as nossas expectativas em relação ao futebol que esperamos ver - ou que estamos vendo - nessa Copa da África do Sul. Vamos lá: das 16 partidas disputadas, cinco terminaram em 1 a 0; quatro em 1 a 1; três em 2 a 0; uma em 2 a 1 (a do Brasil) e 1 mais uma em 4 a 0. Ou seja: pelo menos até aqui, este é claramente o  mundial da supremacia das defesas em relação aos ataques, e estamos conversados. Isso mostra que a globalização, ao menos no futebol como espetáculo de massa, igualou as diferenças culturais da prática do jogo sob a hegemonia do modelo competitivo europeu baseado na vitória a qualquer custo por mais paradoxal que isso possa parecer. A idéia geral por trás disso é primeiro garantir a não derrota (que custa muito dinheiro e pode dar prejuízo em termos de negócios) para, depois, correr atrás da vitória, que pode agregar lucros. Pois bem. Correlatamente, nos campos da África do Sul, é isso que estamos vendo na prática do jogo, e novamente estamos conversados. O mais são especulações românticas de quem quer ver ainda o futebol jogado como uma arte, como uma forma de arrebatamento, como uma afirmação do talento individual em comunhão com o engenho coletivo sob a expressão do esporte. Mas vamos ao jogo da Espanha contra a Suiça. Historicamente um time de expressão conscientemente defensiva, a Suíça veio para este mundial sem querer mudar essa tradição. Assim é que o técnico Alemão Ottmar Hitzfeld armou o time sem prometer surpresas. Isto é: não atacar ninguém a não ser quando lhe abram a guarda. Pois foi justamente isso o que aconteceu no jogo contra a Espanha. Os espanhóis atacaram durante todo o jogo, porém, sem consistência e criatividade para furar o atual "ferrolho" suíço. Enfrentando duas linhas de quatro jogadores compactados e postados atrás; uma protegendo a outra, a Espanha tentou, tentou, tentou, mas não conseguiu chegar ao gol dos suíços. Estes, com apenas dois homens adiantados na frente, tiveram paciência para irritar os espanhóis até o erro. Com uma saída de bola que começou na sua defesa (precisamente com o seu goleiro), estes dois homens pressionaram a zaga espanhola até que a jabulani sobrou para um deles, o atacante Blaise N'kufo, que empurrou para o gol aos 7 minutos do segundo tempo, fazendo o placar de 1 a 0 que foi até o final da partida. E quase que o escore seria aumentado aos 29 da mesma etapa, quando Eren Derdiyok driblou a zaga espanhola em alto estilo e desviou para o gol, com a bola batendo caprichosamente na trave. A Espanha ainda tentou reagir colocando em campo três atacantes de sangue novo: Fernando Torres, Villa e Navas. O time melhorou, mas não o suficiente para reverter a realidade inesperada da derrota. Realmente os atacantes dessa Copa não estão inspirados mesmo. Ou talvez seja as defesas que estão comprovando a tese de que destruir é realmente mais fácil do que construir. E num futebol extremamente globalizado e administrado em todos os sentidos sob a lógica do capital, há que primeiro destruir para depois construir (alimentando a roda-viva do sistema), alternadamente, em escala progressiva, e parece que infinita...

Uruguai vence e convence ante os anfitriões da Copa

Diego Forlán solou o jogo, fez dois gols e venceu os donos da casa 
Na abertura da segunda rodada dessa Copa do Mundo, finalmente uma boa partida de futebol com um placar expressando a realidade do jogo. O Uruguai salvou a pele da seleções sul-americanas ao bater a África do Sul por 3 a 0, jogando um futebol ao mesmo tempo eficiente e vistoso. Apresentando, inclusive, a melhor partida feita por um jogador individualmente: Diego Forlan, que solou o jogo e ainda marcou dois dos três tentos da partida. Sua atuação, primorosa em todos os sentidos - armou, criou, deu passes perfeitos e ainda finalizou bem -, foi ajudada por uma modificação tática feita no time pelo técnico, Oscar Tabárez. Com a ausência de Lodeiro no meio de campo, ele recuou Forlan para as funções de meia e incluiu Cavani adiantado na frente, para subtsitui-lo como atacante. Resultado prático: o time uruguaio ganhou um plus de qualidade no meio e no ataque, já que Forlan foi um típico armador sem deixar de fazer as jogadas agudas que desnortearam a defesa dos Bafana, Bafana! Por outro lado, o time comandado por Parreira não mostrou o entusiasmo da estréia contra o México e capitulou ante o bom futebol consciencioso e experiente do Uruguai. Tá certo que a arbitragem errou ao não marcar o impedimento que redundou no pênalti do seguno gol uruguaio, mas mesmo assim, o estrago já estava feito. Com menos um jogador no finalzinho do jogo (o goleiro que fez o pênalti foi expulso), o meia Álavro Pereira concluiu um cruzamento vindo da direita e fechou a conta com os 3 a 0, resultado que pode significar a desclassificação antecipada dos donos da casa para a próxima fase do mundial. Se isso realmente acontecer, terá sido a primeira vez que uma seleção anfitriã fica fora das oitavas de final de uma Copa do Mundo. Lamentável para um país que mostra a todos nós, nessa Copa, justamente a marca positiva da superação.

Nenhum comentário: