O futebol como um fenômeno da cultura brasileira

As coisas só acontecem por acaso, necessidade ou vontade nossa! Epicuro - filósofo.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O humor no futebol


Existe uma faculdade humana que percebemos estar presente em todas as nossas atividades diárias sejam elas profissionais, mundanas ou amadoras. Uns mais outros menos, sabemos que cada um de nós carrega dentro de si esta disposição de espírito, esta graça, este dom para a veia cômica. Melhor definindo: esta capacidade de perceber, apreciar, realizar ou expressar o que é cômico ou divertido. Em palavras mais exatas: aquilo que, morrendo de rir, denominamos de humor.
O humor é, por assim dizer, uma das características que define e encerra a alma humana. Há quem diga, para a gargalhada das hienas, que é próprio do homem, exclusivo do homem, apenas do homem, a prerrogativa de sorrir. E mais: que o homem é a única espécie viva na natureza que tem a capacidade de rir de si próprio. Em suma: sem muita conjectura filosófica, poderíamos ver nisso, quem sabe - e por que não? -, o nosso único e distintivo traço de superioridade sobre os outros animais.
Afinal, é o senso de humor que nos permite refletir sobre nossas ações pretéritas. Ao fazer-nos rir, é ele o dispositivo que permanentemente nos joga literalmente na cara a nossa parca condição humana, a face ridícula das nossas contingências existenciais e históricas. E como o humor está presente em tudo o que é humano, trago-o para este domingo para também o inserir no mundo do futebol. Sim, porque por mais dramático e passional que seja o universo futebolístico, não lhe escapa a face cômica, o seu lado de farsa picaresca, seu viés de tragicomédia, enfim, o humor que lhe é peculiar. Assim, tantas e tamanhas são as histórias engraçadas do mundo do futebol!
Digo isso a propósito de ter me chegado às mãos um livrinho espetacular sobre histórias engraças de futebol. Trata-se do Vocabulário Popular e Humor do Futebol, de Manoel Luis Melo, o popular Luisinho Bola Cheia, lançado este ano pelo selo da Editora Universitária da UFPB, através da coleção Autor Associado. Luisinho Bola Cheia, natural de Campina Grande, é uma figura que fez carreira no futebol nordestino primeiro como jogador, depois como preparador físico e finalmente como técnico de vários clubes da região. Sua carreira é vasta e cheia de episódios engraçados. Além do ofício de atleta, se intitula também escritor futebolístico. Foi talvez o primeiro escritor do mundo a fazer verdadeiramente o encontro da literatura com o futebol quando promoveu, em pleno gramado do Maracanã, o lançamento de seu primeiro livro em meio a uma partida entre América e Botafogo, ambos clubes do Rio de Janeiro.
O livro do nosso Luisinho Bola Cheia é, portanto, uma exemplar mirada no humor que envolve o mundo do futebol. E como isso aqui é uma coluna de crônicas de futebol e não de crítica de literatura, resolvi partilhar, com o leitor que nos acompanha aos domingos - sempre que houver oportunidade - algumas das saborosas estórias contadas pelo autor em uma das suas mais brilhantes jogadas.
O artilheiro fictício - Havia, na cidade de Juazeiro, Estado do Ceará, um treinador famoso chamado Praxedes. Certa feita ele treinava o time do Icasa daquela cidade. Numa de suas preleções, o Praxedes chama o centroavante do time, Zé Roberto, e faz a seguinte preleção: – “ Olha, Roberto. O nosso goleiro sai com o lateral Catolé; então Catolé mete para o médio volante, Dote; este passa para Bob Xaxá, que faz o cruzamento para a sua cabeça e você faz um a zero”.
“– Na jogada seguinte, Catolé lança pra Zinho e este, de primeira, dá o passe perfeito para o Zé Roberto que amplia a contagem para dois a zero, entenderam?”
O restante do elenco do time apenas escutava a preleção otimista do treinador Praxedes. E ele continuava: “– No final do primeiro tempo, o nosso ataque engana o adversário e sai com esta jogada ensaiada: o nosso goleiro arremessa com as mãos para o Bob Xaxá, que mata a bola no peito e, cruzando de imediato para a área, Zé Roberto vem chegando e de peixinho faz três a zero pra gente, só no primeiro tempo”.
De repente, sem que ninguém esperasse, Praxedes cai na real e encerra a preleção da seguinte maneira: “ – Rapaziada, vamos rezar para Deus nos ajudar a conseguir pelo menos um honroso empate pois esse centroavante galado não faz gol em time nenhum!...”
Outras futebolísticas – Sabará, um conhecido pontinha que jogou no Goiás, leva uma porrada do lateral adversário e desmaia. Às pressas, é levado para o Hospital de Pronto Socorro onde o médico de plantão grita nervosamente: “– Urgente! Leva para o balão de oxigênio!”
O atleta é levado para a mesa de operação. Quando os médicos vão colocar a máscara de oxigênio na boca de Sabará, ele se reanima e, pensando que estava sendo entrevistado, sai com esta: “ – Ouvintes da Rádio Brasil Central, Boa Noite!!!”

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Ceará 9 x 0 Calouros do Ar. O placar diz tudo. Mas, o presidente do time da Aeronáutica bastante triste senta ao lado de Zé Preguinho, um dos astros do time da base aérea, e diz: “– Zé Preguinho, rapaz, 9 a 0! O nosso time é muito ruim!” E o Zé Preguinho, pra consolar o presidente do calouros do Ar responde: “ – Que nada chefe, ruim é quem perde pra gente!”.
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Essa foi contada pelo folclórico e hoje comentarista da TV Itapuan, também ex jogador e treinador do Bahia, o conhecidíssimo Boquinha. Certa vez ele estava fazendo um treinamento coletivo com os jogadores do “Tricolor de aço” quando, aos berros, ordenou: “– Sai pra receber, Gato Preto!”. Como o pagamento do Bahia estava atrasado há três meses, o jogador Gato Preto ao invés de de “sair” (se deslocar para receber a bola lançada por um colega), deu um pique bem rápido e foi direto para a tesouraria do clube “receber os seus salários atrasados”...
Foto de Tiago Santana

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