O futebol como um fenômeno da cultura brasileira

As coisas só acontecem por acaso, necessidade ou vontade nossa! Epicuro - filósofo.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

BRASIL x ARGENTINA - ou Mário de Andrade e o futebol!

"Mas na verdade, por causa daquele jôgo, estávamos todos odiando os argentinos e a Argentina."

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"Ora o que é que se via desde aquele início? O que se viu, se me permitirem a imagem, foi assim como uma raspadeira mecânica, perfeitamente azeitada, avançando para o lado de onze beija-flôres".
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"Era Minerva dando palmadas num Dionísio adolescente e já completamente embriagado. Mas que razões admiráveis Dionísio inventava para justificar sua bebedice, ninguém pode imaginar! Que saltos, que corridas elásticas! Havia umas rasteiras sutis, uns jeitos sambísticos de enganar, tantas esperanças davam aqueles volteios rapidíssimos, uma coisa radiosa, pânica, cheia das mais sublimes promessas! E até o fim, não parou um segundo de prometer... Minerva porém ia chegando com jeito, com uma segurança infalível, baça, vulgar, sem oratória nem lirismo, e juque! Fazia gol".
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Mentor intelectual do movimento modernista nas nossas letras, Mário de Andrade foi um dos intelectuais que mais se empenhou em criar uma fisionomia brasileira para as nossas intervenções no âmbito da cultura. E cultura entendida aqui não apenas no seu restrito sentido erudito e elitista, mas, sobretudo, no senso popular da palavra; no que ela tem de revelador do que fazemos, do que somos e do que fazemos do que somos.
Assim é que podemos entender as palavras acima, escritas em uma crônica sua, datada de 1939, por ocasião de um jogo entre o Brasil e a Argentina, a que assistira no Rio de Janeiro.
Estão presentes aí, perfeitamente qualificados, todos os ingredientes que iriam definir o tipo de futebol praticado pelos brasileiros desde que importou-se o jogo da Inglaterra, assimilou-se o seu espírito lúdico e competitivo e incorporou-se à sua prática uma maneira de ser nacional em oposição a um outro estrangeiro, aqui representado pelo nosso maior rival: os nossos vizinhos portenhos.
Pois bem! Neste sábado (05.09), se enfrentam mais uma vez - desta feita na disputa de uma vaga para a Copa do Mundo da África do Sul, em 2010 -, os brasileiros e os argentinos. É possível que se reeditem outra vez os elementos contextuais que sempre cercam os encontros futebolísticos entre estas duas nações, tão bem captados pela pena do nosso Mário de Andrade. Vamos aguardar pra ver. E com a certeza - espero que confiramada pelos fatos - de que é sempre muito bom ganhar da Argentina! Afinal, parafraseando o sociólogo do futebol, Ronaldo Helal, nós odiamos amar os argentinos enquanto os argentinos amam nos odiar!
  • Em tempo: o jogo a que Mário de Andrade assistiu e que serviu de motivo para a composição da aludida crônica, foi o de nº 59 da história da Seleção Brasileira de futebol. Disputado no estádio de São Januário, no Rio de Janeiro, pela Copa Roca, em 15 de janeiro de 1939, o jogo foi responsdável por uma das maiores goleadas sofridas por nosso selecionado frente aos argentinos: 5 a 1 pra eles.
  • Na relva verde, os nossos beija-flores eram: Batatais; Domingos; Machado; Bioró e Brandão; Médio; Luisinho e Romeu; Leônidas; Tim e Hércules. O único gol do Brasil foi marcado por Leônidas.
  • Para ler a crônica de Mário de Andrade, intitulada "Brasil versus Argentina", ver: PEDROSA, Milton. GOL DE LETRA. Rio de Janeiro: Editora Gol, 1967.

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