A demanda do G-6
Um dos aspectos básicos da vida e, portanto, da nossa visão de mundo a
partir dela, é a noção hierarquizada que temos das coisas. E é assim porque
tudo que tem organização - ou até mesmo desorganização - como é o caso das sociedades
humanas, tem como fundamento a hierarquia com que se estabelecem as relações de
poder, inevitáveis nos empreendimentos humanos.
Assim também é no futebol, uma vez que além de um mero jogo ou esporte,
este também é um empreendimento humano, principalmente quando compreendido no
mundo moderno em que a atividade se estabelece ligada a vários âmbitos da vida.
Seja no seu aspecto cultural, político, desportivo, estético ou econômico, o
futebol não escapa a essa lógica geral da hierarquia de todas as coisas. É só
observar a organização dos campeonatos - as disputas institucionalizadas deste
esporte - e o leitor entenderá aonde quero chegar com essa conversa fiada.
Quero dizer, portanto, que é comum se observar nas tabelas dos
campeonatos esportivos pelos menos duas zonas hierárquicas com que se
estabelecem as disputas, os sonhos e os pesadelos dos competidores (ver jogos, abaixo). Aquilo que
na sua sabedoria prática e imediata o torcedor classifica, já reconhecendo essa
configuração hierárquica, em G-4 e Z-4; ou G-2 e Z-2, conforme a estrutura e
regulamento de cada competição.
Trouxe esse papo esquisito aqui para este domingo porque o campeonato
paraibano de futebol profissional deste ano trouxe uma novidade nessa seara,
decorrente da forma estranha com que o seu regulamento organizou as disputas
entre os times da primeira divisão do Estado. Como dois dos dez clubes que
integram o certame este ano vão ficar fora da sua primeira fase, porque durante
este período disputam o campeonato do Nordeste (casos de Campinense e Sousa),
restou que será nesta primeira fase mesmo que será feito o descenso dos outros
dois clubes que cairão para a segunda divisão do ano que vem.
É sobre esta circunstância nova que se organizou, por consequência, a
lógica hierárquica do campeonato deste ano, já que os clubes em disputa, ao
final do primeiro turno, se arranjarão em três zonas de qualidade conforme os
seus desempenhos: o G-2, que inclui os dois melhores da primeira fase,
automaticamente classificados para as finais do certame; os dois piores da
fase, automaticamente rebaixados para o ano de 2014 e - salve a novidade! - o
G-6, que incluirá os times que não subirão ao céu nem descerão aos infernos.
Decorridos os jogos da quarta rodada do Paraibano deste ano, nota-se já,
com relativa força de tendência quais os times que brigarão apenas pelo cálice
sagrado do G-6, uma vez que não têm condições técnicas (nem econômicas, nem
política, nem de nada) para almejar os céus do G-2. É, portanto, para fugir do
inferno da segunda divisão, isto é o Z-2, o fim da tabela e dos seus próprios
propósitos que, por inferência direta desse raciocínio acima, esse clubes
brigarão entre si, com vistas no G-6.
A demanda do G-6, portanto, transformou-se na zona de atração destes
clubes e, por conseguinte, do próprio campeonato de 2013, criando uma briga
acirrada entre os clubes intermediários, que este ano parecem ser quase todos
os outros, a exceção de Botafogo, Treze, Campinense e CSP.
Pelo que vi jogar esses clubes, arrisco a dizer que entre Paraíba, Auto
Esporte, Atlético, Nacional e Cruzeiro, o G-6 é que buscam todos eles, numa
luta feroz para fugir do Z-2. Só o Sousa para mim é um enigma, já que não sei
como está montado o time nem como ele vai se portar, neste domingo, contra o
Sport, do Recife, na estreia do Nordestão. Só para esclarecer as legendas: a
sigla G-2 significa Grupo dos dois primeiros; a sigla Z-2 significa grupos dos
dois últimos - daí o Z, última letra do alfabeto - e a sigla G-6, o grupo da
turma dos que nem fedem nem cheiram.
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