Amadorismo e descompromisso com o futebol
Com Pedro Henrique Amorim
O time do Sousa que perdeu, no ultimo domingo, em casa, para o Botafogo por 2 a 0, e o time do Campinense, que sofreu uma sonora goleada para o seu maior rival, o Treze, por 4 a 0, parecem ter desistido de vez do campeonato paraibano. De fato, a equipe sertaneja não pode matematicamente almejar mais o título, mas o Campinense ainda tem a possibilidade ainda que remotíssima de levantar a taça. Com três jogos ainda marcados para cumprir na tabela da competição, ambos os times já começam a desmanchar seus elencos - atitude que pode ainda interferir no resultado final do certame -, numa prova de que os dirigentes do futebol paraibano continuam pensando e agindo como sempre: de forma amadora e, por decorrência, sem planejamento algum.
Na tarde dessa segunda-feira (26), a diretoria do Campinense teve uma reunião particular com o treinador Freitas Nascimento e foi decidida a sua demissão. Freitas estava no comando da equipe desde a campanha da série B, no ano passado, quando não conseguiu manter o time na segunda divisão e caiu para a série C deste ano. Ele dá lugar agora ao treinador dos juniores do clube, Degmar Silva. O clube também prometeu a dispensa de cerca de cinco jogadores do elenco, entre eles o meia Nem e os atacantes Anderson Kamar e Marquinhos Marabá, que se envolveu numa briga com a torcida no meio da semana passada.
Já no Sousa as coisas não foram diferentes: apesar de ainda ser oficialmente treinador da equipe, Suélio Lacerda declarou que iria convesar com a diretoria pra resolver sua permanência ou não no clube do Sertão. Além disso, também já foram confirmadas as saídas de quatro atletas do elenco sousense: Alexandre, Zé Augusto, Juninho e o melhor jogador do elenco, Manú, que já não fazem mais parte do time. Segundo Aldeone Abrantes, presidente do Sousa, Manú se recusou a jogar o último jogo diante do Botafogo alegando contusão, porém a verdadeira razão para a recusa, ainda segundo o próprio presidente, teria sido o recebimento de uma proposta de contrato feita por um time paraibano que vai disputar a Copa do Nordeste, leia-se, então, Treze ou Botafogo, o que teria deixado a diretoria do Sousa furiosa. O ambiente, portanto, não está nada bom para essas duas equipes, principalmente para o Campinense que agora está sem treinador e com um calendário a cumprir no segundo semestre pela série C do futebol brasileiro.
ANÁLISE
Não é de hoje que impera um senso amadorístico na gerência do futebol da Paraíba. Isso em todos os segmentos que compõem o universo profissional deste esporte. Não é à toa que a exceção do Piauí, o futebol paraibano talvez seja o de pior representação no cenário nacional. Hoje, temos apenas um clube na série C e um candidato natural à série D, que sairá das disputas do campeonato paraibano deste ano. Para a Copa do Brasil, uma das vagas ainda terá que ser disputada em torneio específico, a chamada Copa Paraíba, no segundo semestre. Ainda bem que a Liga do Nordeste emplacou a realização, também no segundo semestre, do Campeonato do Nordeste, o charmoso Nordestão. Não fosse isso, os demais times seriam equipes fora de série, isto é, com a permissão do trocadilho: não estariam em competição alguma, deixando seus torcedores a ver navios. E isto em relação aos clubes da capital porque quanto aos torcedores do interior, estes ficariam mesmo a ver as alimárias pastarem no bucolismo da indigência. Pois bem. Esse desmanche precoce dos elencos dos times do Sousa e do Campinense, além de vergonhoso e decepcionante para os jogadores e torcedores do Estado, chega a ser irresponsável e descompromissado com a conclusão de um campeonato que este ano teve uma fórmula de disputa de sucesso comprovado, o que, na prática, está sendo a revelação dentro de campo do necessário senso de justiça que deve ficar para o torcedor que não puder comemorar o título. Ou mesmo para o que puder comemorar o título, que, com os pontos corridos, será inquestionável e comprovadamente justo. Assim estão demonstrando as campanhas dos times do Treze e do Botafogo, que este ano foram os clubes que levaram mais a sério as coisas do futebol paraibano, apesar de alguns deslizes ainda amadorísticos cometidos pelos seus dirigentes. Ainda voltaremos a este assunto ao final do campeonato.
Em tempo: o futebol profissional resume-se, a meu ver, numa equação simples e de variáveis interdependentes: dinheiro, talento, organização e planejamento. Sem dinheiro não há o talento; sem o talento não há o que organizar e sem organização, não há planejamento. Sem qualquer uma dessas variáveis - ou à falta de algumas delas - o que existe é amadorismo. E um amadorismo deletério e anacrônico.
Em tempo: o futebol profissional resume-se, a meu ver, numa equação simples e de variáveis interdependentes: dinheiro, talento, organização e planejamento. Sem dinheiro não há o talento; sem o talento não há o que organizar e sem organização, não há planejamento. Sem qualquer uma dessas variáveis - ou à falta de algumas delas - o que existe é amadorismo. E um amadorismo deletério e anacrônico.
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