Sua majestade, o
pênalti
por Edônio Alves
Resolvi tratar
hoje aqui de um tema não muito usual para uma coluna semanal sobre futebol: a
relação deste esporte com a literatura. É que pesquiso esse assunto há um certo
tempo e de vez em quando me flagro constatando na vida real situações estudadas
por mim nas histórias de ficção produzidas pelos craques da literatura.
Notadamente, é bom que se diga, quando essas histórias versam sobre questões
ligadas ao universo do futebol. Este é o caso, portanto, do que vou contar a
seguir.
Tomemos como
exemplo, neste sentido, o escritor Flávio Carneiro e conheçamos um pouco da sua
história. Ele nasceu em Goiânia, em 1962, e mudou-se para o Rio de Janeiro no
início dos anos de 1980. Escritor, crítico literário, roteirista e professor de
literatura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), publicou doze
livros e escreveu dois roteiros para cinema. Como ficcionista, é autor de um
livro de contos, três romances e cinco novelas para crianças e jovens.
Participou também de algumas antologias, como
“Os cem menores contos brasileiros do
século”, organizada pelo escritor Marcelino Freire, com o
mini-conto, Na sala de espelhos, e
“22 contistas em campo”, organizada
por Flávio Moreira da Costa, com o conto, Penalidade Máxima.
É também professor
de graduação e pós-graduação em literatura brasileira e comparada, na
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), onde leciona desde 1995 e seu
mais recente livro publicado, que trata especialmente sobre futebol,
intitula-se, Passe de letra: futebol
& literatura, editado pela Editora Rocco do Rio de Janeiro, em 2009.
Como já disse, Carneiro
é autor do conto, Penalidade máxima, que
está publicado no livro 22 contistas
em campo, organizada
por Flávio Moreira da Costa e publicado pela Ediouro, do Rio de Janeiro,
em 2006.
Esta narrativa
intenta captar e transmitir para o leitor um dos momentos mais concentrados do
futebol em termos de economia de meios, o que significa, na prática do jogo da
bola, a convergência radical de estratégias técnicas pessoais, o domínio das
emoções controladas e a confluência de expectativas díspares quanto ao seu
desfecho: a batida de um pênalti por parte de um jogador encarregado de
cobrá-lo, como se diz no vocabulário futebolístico especializado.
Enquanto fato de efetivação estética na
composição literária, esse momento crucial do jogo é abordado nesta história,
por parte do narrador, a partir do ponto de vista de um jogador de 21 anos que
tem nas mãos a oportunidade única de resolver para si, num único, preciso e
irrepetível instante, duas questões a ele correlatas: dar a vitória ao seu time
no campeonato de futebol de várzea que disputa como artilheiro e jogador de
destaque e, à mesma feita, encetar uma vingança pessoal contra o goleiro
adversário por quem supostamente sua garota se enamorara, num vislumbre de puro
alumbramento da parte dela, percebido por ele, dentro do gramado do jogo.
Ser uma percuciente análise subjetiva da
interioridade humana quando exposta a casos particulares de momentos decisivos
é o mérito maior desta narrativa de ficção que encontra no futebol seu meio
adequado de expressão.
Pois
bem! Trouxe o tema aqui porque na semana passada, vi em dois jogos de futebol
da vida real essa questão central do pênalti ser colocada para dois clubes e alguns
dos seus jogadores. O primeiro deles foi a partida entre Auto Esporte e Treze,
válida pela 8ª rodada do campeonato Paraibano. O segundo jogo foi entre
Campinense e Sampaio Correia, pela Copa do Brasil. Nos dois casos, o pênalti
foi o que decidiu o destino dos combatentes da peleja da bola.
O
Campinense venceu o Sampaio Correia por pênaltis após este time ter perdido um
pênalti no final do tempo regulamentar. O placar final do jogo foi 7 a 6 para o
Campinense após a cobrança da série de pênaltis que desempataria o resultado
agregado de dois jogos: uma vitória para cada time nos jogos de ida e volta. Já
o Auto Esporte tomou uma goleada de 3 a 0 para o Treze, após perder um pênalti
aos 8 minutos iniciais da partida com o rival. Por causa disso, perdeu o equilíbrio
e a concentração psicológica do jogo e não conseguiu fazer mais nada a não ser,
ver o adversário jogar.
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