O gol como exclamação!
Por Edônio Alves
Já falei aqui, neste BLOG, da
grandeza e dos aspectos multifacetários do jogo de futebol. Vou apresentar aos
leitores hoje, nesta mesma direção, mais uma faceta desse jogo mágico e
fantástico que tanto amamos. Trata-se da sua relação com a ou as linguagens
humanas. Sua dimensão comunicativa, por assim dizer.
Conforme uma sugestiva proposição do
historiador Hilário Franco Júnior, o futebol pode ser entendido como uma
integral metáfora de várias instâncias do viver humano. Isso porque, em sua
abordagem do jogo, ele o compreende como um fenômeno cultural que em última
instância se exerce como linguagem; uma linguagem que a nosso ver é irredutível
(tem sua autonomia própria) e é imanente (produz efeitos no interior de si
mesma), mas também dotada de um potencial de narratividade que força, por isso
mesmo, uma aplicação transcendente do seu universo temático.
Explica-se: graças ao fato de nutrir-se de
códigos verbais (o vocabulário utilizado por jogadores, torcedores e imprensa
para falar do jogo) e também não-verbais (a sua linguagem corporal; como numa
dança), o fenômeno do futebol poder ser pensado, segundo ainda Franco Júnior,
“como ao mesmo tempo [uma linguagem] natural (correr, fugir, enganar, chutar e
pegar fazem parte da história evolutiva da espécie); e artificial – [um
conjunto de] regras para organizar a representação moderna desses atos
primordiais”.
Neste sentido, ainda na sua compreensão do
futebol como sendo uma específica linguagem de fundo gestual, Franco Júnior faz
uma sugestiva relação entre este jogo e a linguagem verbal tipicamente humana.
Diz ele, nesse sentido, que o futebol se constitui numa linguagem porque possui
morfologia, semântica e sintaxe próprias, apresentando, no entanto, uma particularidade
que lhe é essencial: cada falante é coletivo (o time) e seu discurso construído
com material dos vários indivíduos (jogadores) que fazem parte de tal
comunidade linguística e que, submetidos à gramática do jogo, desenvolvem
roteiro predefinido (tática), porém adaptável às intervenções do interlocutor
(o time adversário). Tudo isso – acrescenta o historiador – sob o olhar de
muitíssimos outros indivíduos (torcedores), que veem naquela troca de
mensagens, na interatividade daqueles discursos, um sentido que os sensibiliza.
Numa curiosíssima e pertinente teorização
comparativa, Hilário Franco Júnior segue traçando as sugestivas relações entre
o futebol e a linguagem verbal humana, instrumentalmente transformada numa
língua. E já que a unidade básica de todas as línguas é o fonema, conforme
sabemos, esta constatação linguística aplica-se perfeitamente ao futebol,
segundo ele. “Já comentamos as unidades menores de forma isolada (passe,
drible, chute). Lembremos agora de passagem, que a combinação daqueles gestos
compõe frases futebolísticas. Uma troca de passes, mesmo na zona defensiva,
apenas esperando melhor posicionamento dos jogadores de frente, constitui uma
frase ou sentença, ainda que não faça de imediato o discurso avançar. Na
classificação funcional das frases, seria uma interrogação”, diz, para concluir
mais à frente, que o chute a gol, com a respectiva marcação do tento, nada mais
é, no domínio do futebol, do que uma sentença de exclamação, aquela cuja função
é exprimir os sentimentos do falante (e de toda a sua comunidade).]
“Gol é enunciação emocional”, arremata o
historiador.
Talvez seja por isso que gritamos tanto ao
comemorar um gol, arremato eu.
LER TAMBÉM EM: http://jornalauniao.blogspot.com.br/ e http://diariopb.com.br/category/colunas/coisas-de-futebol/
Nenhum comentário:
Postar um comentário