Futebol, política,
emoção e glória!
por Edônio Alves
Começando pela primeira palavra de sugestão do título acima, iniciemos
falando de futebol. Tenho acompanhado a Copa das Confederações e seu entorno de
eventos políticos e gostaria, por isso mesmo, de falar separadamente de cada
item aludido no cabeçalho deste texto. A primeira coisa a se dizer - ou a se
reconhecer - no que diz respeito diretamente ao futebol do torneio, é que
restaram as quatro melhores seleções para as semifinais da disputa, tendo o
Brasil já se classificando merecidamente para a disputa do título.
Excetuando-se, além da Espanha, Uruguai, Itália e Brasil, as
semifinalistas, apenas o Tahiti, por incrível que pareça, veio ao Brasil fazer
história, nessa conturbada Copa das Confederações. As seleções dos outros
países que ficaram pelo caminho entenderam bem a condição de evento-teste da
Fifa deste torneio e assim levaram as disputas futebolísticas, dentro de um
programa de treinamentos para as eliminatórias da Copa de 2014, que enfrentam
no momento, e, por extensão, para o próprio mundial do ano que vem.
Não se pode falar do item intrínseco do futebol nessa Copa das
Confederações sem mencionarmos o grande papel desempenhado pela seleção do
Tahiti. Este foi de longe o País que melhor entendeu o certame. Percebeu sua
dimensão histórica, política, turística, desportiva, diplomática, avaliativa, e
futebolística mesmo, uma vez que tratou junto a clubes brasileiros de preparar
programas de intercâmbio que envolvesse alguns dos seus jogadores amadores com
promessas de se tornarem profissionais num futuro próximo. E, convenhamos, foi
o time que mais expressou em campo o espírito desportivo do jogo de futebol.
Sabia que ia perder todas as partidas que ia jogar, mas nem por isso
desvalorizou suas partidas. Jogou como sabe e pode, com ética e respeito aos
adversários, sem contabilizar números, placares ou ironias. Foi, a meu ver, o
grande futebol (no sentido maior mesmo) desse torneio.
Quanto ao Brasil, a surpreendente constatação de que o técnico Luis
Felipe Scolari finalmente começa a desenhar um time para as disputas da Copa do
Mundo do ano que vem. Falta apenas a invenção ponderada de um esquema tático
que possa ser o antídoto para o jogo exitoso já definido e aprovado na prática
do futebol espanhol. Será esse, sem dúvida, o nosso grande adversário a ser
batido no Mundial do Brasil e para que isso aconteça - talvez já nessa final da
Copa das Confederações como um teste - será necessário algo mais do que montar
um time. Será preciso nos reinventarmos com uma nova maneira de jogar em campo.
Algo que junte a força física, a habilidade técnica, o controle emocional e a
definição de uma tática racional que tenha um plano de jogo por trás. Algo como
o nosso costumeiro futebol arte comandado por uma razão sensível. Nada tão
simples, convenhamos.
Bom. Mas, pulemos para a política. Um das coisas mais importantes que
vi nas manifestações dos torcedores nos estádios foi a defesa consciente de que
o futebol em si - enquanto jogo e enquanto esporte - nada tem a ver com as
razões que colocaram o povo brasileiro nas ruas. É a forma de administrar o
País - com inversão de prioridades e desperdício do dinheiro público e
consequente corrupção - que fez o brasileiro ir para as ruas e para os estádios
colocar no devido lugar a presença do futebol nas nossas vidas.
Pela belíssima manifestação da torcida brasileira presente ao estádio
Mineirão, em Belo Horizonte, apoiando incondicionalmente a Seleção Brasileira
contra o Uruguai, deu para perceber a sabedoria do povo em separar o futebol
que ama do aproveitamento político dele pelas elites econômicas que o exploram.
Foi bonito o recado do povo brasileiro.
Quanto à emoção e à glória, devo dizer que toda vez que jogam Brasil e
Uruguai se atualiza o grande revés histórico sofrido por nós na final da Copa
do Mundo de 1950, quando perdemos para eles, em pleno Maracanã, uma Copa
organizada e devida ao povo brasileiro pela qualidade do nosso futebol.
Encenam-se e ritualizam, então, uma vingança histórica que nunca termina, nem
mesmo com o apito do juiz em mais um jogo em que batemos nosso rival com
supremacia e afirmação. Foi isso que vimos na semifinal da Copa das
Confederações da quarta-feira passada, quando o Brasil passou para final
deixando o Uruguai para trás e no seu devido lugar. Tudo com emoção de mais e
glória demais para o nosso futebol.
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