O futebol como um fenômeno da cultura brasileira

As coisas só acontecem por acaso, necessidade ou vontade nossa! Epicuro - filósofo.

domingo, 2 de junho de 2013

BOTAFOGO_Campeão Paraibano de 2013_ANÁLISE


 
Campeão com beleza, suor e raça

 

 
 
 
POR Edônio Alves

 

- Hoje, é bola pra fora e não pra dentro!

A frase acima, proferida na quinta-feira passada por um torcedor do Treze nas cadeiras do estádio Amigão, em Campina Grande, na partida final do campeonato paraibano deste ano em que o Botafogo, de João Pessoa (ou melhor: da Paraíba), saiu campeão com beleza, suor e raça, para além de uma mera tirada de um torcedor, é emblemática quanto ao que estava em jogo naquela decisão coroada com tonalidades épicas.

Digo isso porque tudo que se viu no Amigão, na quinta-feira passada, expressou a essência total do futebol, esse jogo magnífico jogado com seres humanos e uma bola, esse objeto distinto de todos os outros – sem quinas, pontas, dorso ou face, igual a si mesmo em todas as direções de superfícies -, que rola e quica como se animado por uma força interna, projetável e abraçável como nenhum", nas palavras precisas e reveladoras do poeta.

Já porque também reveladoras, as palavras proferidas pelo torcedor trezeano citado acima, conforme já frisei, serão esmiuçadas aqui, nessa minha tentativa de a um só tempo explicar e parabenizar, com um texto de jornal, a façanha memorável do meu Botafogo da Paraíba, em plena Serra da Borborema, numa tarde-noite brumosa, fria e excepcionalmente acolhedora do bom futebol.

Falo do bom futebol jogado pelo Botafogo, uma vez que o jogo praticado pelo Treze de Campina Grande, nas partidas semifinais e finais do estadual, era assentado numa bufa e sonorosa farsa futebolística: a ideia de que não se sabendo (ou podendo) atacar, se deve proteger-se com ferro e fogo numa retranca aparentemente sólida embora apoiada numa viga (isso lembra Vica) frágil e sem sustentação.

O troço era assim: todos os jogadores do Treze (a exceção de apenas um: o limitado e truculento Tiago Chulapa) se punham atrás da linha da bola com a intensão prioritária de se defender, e dependendo do erro do adversário, que legitimamente tinha que atacar se quisesse ganhar os jogos, contra-atacava aproveitando-se justamente da menor presença numérica dos jogadores oponentes no campo de defesa. A essa tática bizarra e humilhante para os padrões do futebol moderno, o técnico de uma das suas vítimas, o Campinense Clube, que foi eliminado nas duas partidas das semifinais do estadual para o Treze, deu o nome merecido de "tática da bundinha pra trás", na sua bem humorada tentativa de definir a tão desqualificada estratégia ludopédica.

Ocorre que o mentor de tal engenhosidade esportiva - o técnico do Treze, Vica - esqueceu-se de que futebol se joga com uma bola e que por isso mesmo não se pode controlar todas as variáveis estruturais de um jogo como esse. Compreendendo isso, o tal torcedor lá de cima das cadeiras resumiu tudo na seguinte ideia: como o Treze jogava com a vantagem de poder perder pela diferença mínima de um gol no placar, bastava passar o jogo inteiro jogando bola pra fora e gastando o tempo da partida que ao final seriam campeões estaduais.

É pensar pequeno e jogar menor ainda, convenhamos.

Pois foi isso que o Treze fez em quase todo o campeonato deste ano. Esqueceram de lembrar que toda farsa por ser farsa cairá um dia e para a surpresa e tristeza dos incautos que a cultivam, o revés vem sempre a lhes revelar o óbvio, isto é: que se por alguma razão faltar um dia um dos componentes que a sustentam; no caso, marcar antes o golzinho de contra-ataque no adversário, o que não correu na quinta-feira, a estratégia ruirá em cascata como na brincadeira de dominó.

Sabendo, todavia, que futebol não é brincadeira, o técnico do Botafogo, Marcelo Vilar, compreendeu precisamente o que estava em jogo nesta decisão contra o Treze: marcar o gol primeiro do que seu adversário e a partir daí desnorteá-lo psicologicamente  aproveitando-se da fragilidade escondida por trás da "bundinha pra trás". Então incitou seus comandados a jogarem determinados a marcar o primeiro gol a qualquer custo e só então sem empenharem de novo em busca do segundo gol que tiraria o título do adversário e o colocaria em mãos Botafoguenses.

Os jogadores cumpriram à risca suas funções em campo e jogaram como nunca em busca de um título que todos (falo dos trezeanos, claro) já davam como perdido. Perdido que nada! Com beleza, suor e raça, arrancamos a taça das mãos do adversário e mostramos o que é jogar o verdadeiro futebol. E em plena casa do anfitrião, que fique bem claro.
 
 

Um comentário:

Unknown disse...

Bela análise e merecido título ao Belo.