Campeão com beleza,
suor e raça
POR Edônio Alves
- Hoje, é bola pra fora e não pra dentro!
A frase acima, proferida na quinta-feira passada por um torcedor do
Treze nas cadeiras do estádio Amigão, em Campina Grande, na partida final do
campeonato paraibano deste ano em que o Botafogo, de João Pessoa (ou melhor: da
Paraíba), saiu campeão com beleza, suor e raça, para além de uma mera tirada de
um torcedor, é emblemática quanto ao que estava em jogo naquela decisão coroada
com tonalidades épicas.
Digo isso porque tudo que se viu no Amigão, na quinta-feira passada,
expressou a essência total do futebol, esse jogo magnífico jogado com seres
humanos e uma bola, esse objeto distinto de todos os outros – sem quinas,
pontas, dorso ou face, igual a si mesmo em todas as direções de superfícies -,
que rola e quica como se animado por uma força interna, projetável e abraçável
como nenhum", nas palavras precisas e reveladoras do poeta.
Já porque também reveladoras, as palavras proferidas pelo torcedor
trezeano citado acima, conforme já frisei, serão esmiuçadas aqui, nessa minha
tentativa de a um só tempo explicar e parabenizar, com um texto de jornal, a
façanha memorável do meu Botafogo da Paraíba, em plena Serra da Borborema, numa
tarde-noite brumosa, fria e excepcionalmente acolhedora do bom futebol.
Falo do bom futebol jogado pelo Botafogo, uma vez que o jogo praticado
pelo Treze de Campina Grande, nas partidas semifinais e finais do estadual, era
assentado numa bufa e sonorosa farsa futebolística: a ideia de que não se sabendo
(ou podendo) atacar, se deve proteger-se com ferro e fogo numa retranca
aparentemente sólida embora apoiada numa viga (isso lembra Vica) frágil e sem
sustentação.
O troço era assim: todos os jogadores do Treze (a exceção de apenas um:
o limitado e truculento Tiago Chulapa) se punham atrás da linha da bola com a
intensão prioritária de se defender, e dependendo do erro do adversário, que
legitimamente tinha que atacar se quisesse ganhar os jogos, contra-atacava
aproveitando-se justamente da menor presença numérica dos jogadores oponentes
no campo de defesa. A essa tática bizarra e humilhante para os padrões do
futebol moderno, o técnico de uma das suas vítimas, o Campinense Clube, que foi
eliminado nas duas partidas das semifinais do estadual para o Treze, deu o nome
merecido de "tática da bundinha pra trás", na sua bem humorada
tentativa de definir a tão desqualificada estratégia ludopédica.
Ocorre que o mentor de tal engenhosidade esportiva - o técnico do
Treze, Vica - esqueceu-se de que futebol se joga com uma bola e que por isso
mesmo não se pode controlar todas as variáveis estruturais de um jogo como esse.
Compreendendo isso, o tal torcedor lá de cima das cadeiras resumiu tudo na
seguinte ideia: como o Treze jogava com a vantagem de poder perder pela
diferença mínima de um gol no placar, bastava passar o jogo inteiro jogando
bola pra fora e gastando o tempo da partida que ao final seriam campeões
estaduais.
É pensar pequeno e jogar menor ainda, convenhamos.
Pois foi isso que o Treze fez em quase todo o campeonato deste ano.
Esqueceram de lembrar que toda farsa por ser farsa cairá um dia e para a
surpresa e tristeza dos incautos que a cultivam, o revés vem sempre a lhes
revelar o óbvio, isto é: que se por alguma razão faltar um dia um dos componentes
que a sustentam; no caso, marcar antes o golzinho de contra-ataque no
adversário, o que não correu na quinta-feira, a estratégia ruirá em cascata
como na brincadeira de dominó.
Sabendo, todavia, que futebol não é brincadeira, o técnico do Botafogo,
Marcelo Vilar, compreendeu precisamente o que estava em jogo nesta decisão
contra o Treze: marcar o gol primeiro do que seu adversário e a partir daí
desnorteá-lo psicologicamente
aproveitando-se da fragilidade escondida por trás da "bundinha pra
trás". Então incitou seus comandados a jogarem determinados a marcar o primeiro
gol a qualquer custo e só então sem empenharem de novo em busca do segundo gol
que tiraria o título do adversário e o colocaria em mãos Botafoguenses.
Os jogadores cumpriram à risca suas funções em campo e jogaram como
nunca em busca de um título que todos (falo dos trezeanos, claro) já davam como
perdido. Perdido que nada! Com beleza, suor e raça, arrancamos a taça das mãos
do adversário e mostramos o que é jogar o verdadeiro futebol. E em plena casa do
anfitrião, que fique bem claro.
VER TAMBÉM EM: http://diariopb.com.br/category/colunas/coisas-de-futebol/
Um comentário:
Bela análise e merecido título ao Belo.
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