O futebol como um fenômeno da cultura brasileira

As coisas só acontecem por acaso, necessidade ou vontade nossa! Epicuro - filósofo.

domingo, 7 de julho de 2013

Futebol_ANÁLISE


O jogo da desconstrução

 

POR Edônio Alves

 

Encerrada a Copa das Confederações com sucesso total para a Seleção Brasileira de futebol, eis que reiniciam as disputas do Campeonato Brasileiro nos seus quatro níveis pelo País afora. Todavia, gostaria ainda de tratar de um tema referente ao torneio internacional da Fifa, uma vez que algumas coisas do mundo do futebol ainda conseguimos aprender com ele, tanto dentro quanto fora do campo de jogo. O que aprendemos fora do campo - o protesto necessário do povo pelo mau uso que fazem do futebol a elite econômica brasileira - deixo para os especialistas mais abalizados analisarem com mais propriedade e vou me ater aqui apena ao conteúdo intrinsecamente futebolístico das lições que tiramos do certame.

Na coluna da semana passada, quando me referi à possibilidade concreta de o Brasil vencer a Espanha já na partida final dessa Copa das Confederações, como um ensaio para a Copa do Mundo do ano que vem, fiz as seguintes ponderações sobre o fato: para isso, será preciso nos reinventarmos com uma nova maneira de jogar em campo. Algo que junte a força física, a habilidade técnica, o controle emocional e a definição de uma tática racional que tenha um plano de jogo por trás. Algo como o nosso costumeiro futebol arte comandado por uma razão sensível.

Pois bem! Foi justamente isso que o Brasil apresentou em campo na memorável e histórica vitória sobre os espanhóis no Maracanã, domingo passado. Quem acompanha o futebol jogado pelos espanhóis há pelos menos quatro anos seguidos sabe que não se pode entrar em campo contra eles para se ficar assistindo os jogadores tocarem a bola quando e como querem. Mesmo que belo esse tipo de futebol baseado na posse de bola e jogo coletivo, quando se entra em campo para enfrentá-los deve-se efetivamente enfrenta-los e não assistir ao jogo deles como se tivéssemos ido a um espetáculo de teatro.

O técnico Luis Felipe Scolari percebeu isso e montado numa história e tradição futebolísticas que incluem cinco títulos mundiais a nosso favor, resolveu que iríamos enfrentá-los efetivamente e não apenas sermos coadjuvante no processo. Mesmo porque estávamos em casa e jogando à frente de mais de 70 mil torcedores no estádio, além de mais de 200 milhões, espalhados pelo Brasil inteiro. Foi então que montou um esquema tático que desconstruiu o jogo espanhol. Se eles aprenderam conosco o toque de bola refinado com o intuito de manterem-se com a bola nos pés o maior tempo possível (aliás, conceito esse inventado por Carlos Alberto Parreira que sabe que não se toma gols quando se está com a posse da bola), nós que inventamos isso, sabemos que o antídoto necessário nesse caso, é a aplicação total de todos numa marcação que sufoque o adversário em seu próprio campo e que não lhes deixem pensar.

Os espanhóis não esperavam por isso. Esqueceram, com efeito, que aprenderam a jogar o bom futebol conosco. Diante de uma marcação rigorosa, diante de uma torcida eufórica e inventiva, diante de um elenco com nomes individuais como Neymar e Fred, lá na frente, e Tiago Silva e David Luis, lá atrás, sentiram efetivamente que o buraco era mais embaixo.

E qual foi a grande sacada de Felipão, então, no jogo contra os espanhóis?

Foi montar um esquema que desconstruísse item por item o edifício conceitual do futebol ibérico. Se eles jogam baseados na posse de bola permanente e na rápida recomposição do time quando perde a tal posse de bola, Felipão impôs o mesmo ao time brasileiro. Ou seja: tomarmos imediatamente a bola deles a todo custo e, com ela, acionarmos rapidamente o nosso ataque fulminante e letal. Se não conseguíssemos o gol imediatamente, retomar o processo e tocar a bola até que suja o espaço ideal para as investidas em gol. E não é isso que os espanhóis sempre fizeram? Pois façamos também em cima deles para mostrar que mestre é mestre e aluno é aluno.

A lição deu certo até porque eles não tinham Messi e nós tínhamos Neymar. E Davi Luis, Tiago Silva, Daniel Alves, Marcelo, Luis Gustavo, Paulinho, Oscar, Hulk, Júlio César e Fred. Sobretudo, Fred, que disse que já tinha feito de tudo deitado, menos gols. Agora, já pode dizer aos espanhóis - e principalmente às quentíssimas e sensualíssimas espanholas -, que na horizontal tudo é possível dentro de quatro linhas.
 
 
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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