O jogo da desconstrução
POR Edônio Alves
Encerrada a Copa das Confederações com sucesso total para a Seleção
Brasileira de futebol, eis que reiniciam as disputas do Campeonato Brasileiro
nos seus quatro níveis pelo País afora. Todavia, gostaria ainda de tratar de um
tema referente ao torneio internacional da Fifa, uma vez que algumas coisas do
mundo do futebol ainda conseguimos aprender com ele, tanto dentro quanto fora
do campo de jogo. O que aprendemos fora do campo - o protesto necessário do
povo pelo mau uso que fazem do futebol a elite econômica brasileira - deixo
para os especialistas mais abalizados analisarem com mais propriedade e vou me
ater aqui apena ao conteúdo intrinsecamente futebolístico das lições que
tiramos do certame.
Na coluna da semana passada, quando me referi à possibilidade concreta
de o Brasil vencer a Espanha já na partida final dessa Copa das Confederações,
como um ensaio para a Copa do Mundo do ano que vem, fiz as seguintes
ponderações sobre o fato: para isso, será preciso nos reinventarmos com uma
nova maneira de jogar em campo. Algo que junte a força física, a habilidade
técnica, o controle emocional e a definição de uma tática racional que tenha um
plano de jogo por trás. Algo como o nosso costumeiro futebol arte comandado por
uma razão sensível.
Pois bem! Foi justamente isso que o Brasil apresentou em campo na
memorável e histórica vitória sobre os espanhóis no Maracanã, domingo passado.
Quem acompanha o futebol jogado pelos espanhóis há pelos menos quatro anos
seguidos sabe que não se pode entrar em campo contra eles para se ficar
assistindo os jogadores tocarem a bola quando e como querem. Mesmo que belo
esse tipo de futebol baseado na posse de bola e jogo coletivo, quando se entra
em campo para enfrentá-los deve-se efetivamente enfrenta-los e não assistir ao
jogo deles como se tivéssemos ido a um espetáculo de teatro.
O técnico Luis Felipe Scolari percebeu isso e montado numa história e
tradição futebolísticas que incluem cinco títulos mundiais a nosso favor,
resolveu que iríamos enfrentá-los efetivamente e não apenas sermos coadjuvante
no processo. Mesmo porque estávamos em casa e jogando à frente de mais de 70
mil torcedores no estádio, além de mais de 200 milhões, espalhados pelo Brasil
inteiro. Foi então que montou um esquema tático que desconstruiu o jogo
espanhol. Se eles aprenderam conosco o toque de bola refinado com o intuito de
manterem-se com a bola nos pés o maior tempo possível (aliás, conceito esse
inventado por Carlos Alberto Parreira que sabe que não se toma gols quando se
está com a posse da bola), nós que inventamos isso, sabemos que o antídoto
necessário nesse caso, é a aplicação total de todos numa marcação que sufoque o
adversário em seu próprio campo e que não lhes deixem pensar.
Os espanhóis não esperavam por isso. Esqueceram, com efeito, que
aprenderam a jogar o bom futebol conosco. Diante de uma marcação rigorosa,
diante de uma torcida eufórica e inventiva, diante de um elenco com nomes
individuais como Neymar e Fred, lá na frente, e Tiago Silva e David Luis, lá
atrás, sentiram efetivamente que o buraco era mais embaixo.
E qual foi a grande sacada de Felipão, então, no jogo contra os
espanhóis?
Foi montar um esquema que desconstruísse item por item o edifício
conceitual do futebol ibérico. Se eles jogam baseados na posse de bola
permanente e na rápida recomposição do time quando perde a tal posse de bola,
Felipão impôs o mesmo ao time brasileiro. Ou seja: tomarmos imediatamente a
bola deles a todo custo e, com ela, acionarmos rapidamente o nosso ataque
fulminante e letal. Se não conseguíssemos o gol imediatamente, retomar o
processo e tocar a bola até que suja o espaço ideal para as investidas em gol.
E não é isso que os espanhóis sempre fizeram? Pois façamos também em cima deles
para mostrar que mestre é mestre e aluno é aluno.
A lição deu certo até porque eles não tinham Messi e nós tínhamos
Neymar. E Davi Luis, Tiago Silva, Daniel Alves, Marcelo, Luis Gustavo,
Paulinho, Oscar, Hulk, Júlio César e Fred. Sobretudo, Fred, que disse que já
tinha feito de tudo deitado, menos gols. Agora, já pode dizer aos espanhóis - e
principalmente às quentíssimas e sensualíssimas espanholas -, que na horizontal
tudo é possível dentro de quatro linhas.
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