O futebol como um fenômeno da cultura brasileira

As coisas só acontecem por acaso, necessidade ou vontade nossa! Epicuro - filósofo.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Botafogo-PB_Aniversário de 80 anos


Crônica
Um time e uma torcida grande e belos!
Texto e foto: Edônio Alves 
Elenco do Botafogo que disputou a Copa do Brasil deste ano: 11 participações no certame nacional

Hoje, dia 28 de setembro de 2011, o Botafogo Futebol Clube, de João Pessoa, completa 80 anos de uma gloriosa história no futebol da Paraíba e do Brasil. Como uma modesta contribuição a esta história, escrevi, a título de um singelo presente aos inumeráveis torcedores do clube, a crônica que segue e que gostaria de ver lida por todos os botafoguenses de coração.
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“Todos os torcedores de futebol se parecem entre si como soldadinhos de chumbo. Têm o mesmo comportamento e xingam o juiz, com a mesma exuberância e os mesmos nomes feios, o juiz, os bandeirinhas, os adversários e os jogadores do próprio time. Há, porém, um torcedor, entre tantos, entre todos, que não se parece com ninguém e que apresenta uma forte, crespa, irresistível personalidade. Ponha uma barba postiça num torcedor do Botafogo, e dêem-lhe óculos escuros, raspem-lhe as impressões digitais e, ainda assim, ele será inconfundível. Por que?”
O trecho acima, retirado de uma das imortais crônicas de Nelson Rodrigues sobre futebol, me serve aqui de apoio para uma breve, curta, rapidíssima reflexão sobre o time e a torcida do Botafogo da Paraíba, neste dia em que todos nós amantes do bom futebol, nós os torcedores do grande e belo Botafogo paraibano, estamos comemorando os 80 anos de história do nosso clube mais querido.
A reflexão profética de Nelson Rodrigues sobre o torcedor do Botafogo do Rio, que junto a minha sobre o homônimo time paraibano, trata de uma característica singularíssima da personalidade do torcedor botafoguense: a ontológica capacidade de sofrer com seu clube. Parafraseando Euclides da Cunha, diria que o torcedor do Botafogo, o do Rio, é antes de tudo um sofredor. Portanto, ele não vai a campo para ver futebol. Para o Botafoguense do Rio, o futebol é um mero detalhe. O que lhe interessa não é a vitória, mas a edificante experiência da derrota. Assim, o torcedor botafoguense – repita-se, o do Rio -, traz em si todos os caracteres dramáticos de um personagem sheakspereano.
Mas, e o torcedor do Botafogo paraibano? O que lhe patenteia o traço particularíssimo? O que, enfim, lhe faz singularíssimo; diferente, diverso das outras estirpes de torcedores, já que todos se parecem entre si como soldadinhos de chumbo? A estes questionamentos, que amanheceram comigo nesta quarta-feira de aniversário (o nosso Botafogo faz 80 anos de história precisamente hoje), ouso responder com a seguinte observação: o torcedor botafoguense da Paraíba é antes de tudo um ser estético. Ele não vai a campo para ver apenas seu time ganhar. Ganhar para o botafoguense da Paraíba é um mero detalhe. O que lhe interessa, sobretudo, ao comprar o ingresso para adentrar o estádio Almeidão - e nisso o nosso torcedor se iguala aos jogadores quando estes pisam naquele gramado sagrado -, o que interessa ao Botafoguense paraibano, dizia eu, é sobretudo a qualidade do futebol apresentado pelo seu time em campo.
Não se assustem, pois, ao virem aquela bonita massa alvinegra se retirar do estádio ainda faltando muito para uma partida acabar, esteja seu time perdendo ou ganhando. Principalmente ganhando, diria eu. É que acostumado historicamente a ver grande e belo o futebol – registre-se que o nome Botafogo foi inspirado no homônimo carioca justamente pelo outrora exemplo artístico do time -, o torcedor pessoense não se contenta com pouco.
É que nós, meus amigos, nós os verdadeiros botafoguense - ao contrário dos trezeanos e campinenses -, nascemos sabendo distinguir o dramalhão bufo de Dario Fo da alta densidade artística da prosa de Dostoiévski. Nós botafoguenses sabemos que muito mais importante do que ganhar ou perder vale mesmo é o espetáculo artístico proporcionado pelo time em campo. Talvez seja por isso, por essa característica que só nós os botafoguenses temos - a particularidade de ver o futebol como um espetáculo -, é que ninguém compreenda o fato de o torcedor do Belo se comportar no estádio Almeidão como se estivesse em um teatro: profundamente silencioso, porém enfático quando sente que deve aplaudir as grandes jogadas dos seus ídolos.
Por isso, caro amigo torcedor, quando Beraldo de Oliveira, Manoel Feitosa, Livonete Pessoa, José de Melo, Edson de Moura Machado e Enock Lins resolveram se reunir, numa ruazinha de nome grande (do grande Borges da Fonseca) no bairro do Roger, para fundar o nosso Botafogo, no dia 28 de setembro de 1931, não o fizeram apenas para fundar um clube de futebol. Fizeram-no, isto sim, para fundar e gravar na história da Paraíba uma maneira artística de jogar e apreciar o futebol. Parabéns, então, para eles e para nós todos nesse nosso mais um aniversário!

COMEMORAÇÕES DOS 80 ANOS 



Gravação do selo comemorativo dos 80 anos e a inauguração do novo pórtico do CT da Maravilha do Contorno
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O PESO DA HISTÓRIA. Confira aqui as grandes glórias do Botafogo da Paraíba nestes seus oitenta anos de história. O clube é o maior campeão do Estado em número de títulos ganhos. São vinte e seis títulos conquistados. Nove a mais que o segundo colocado, o Campinense Clube, que detém dezessete conquistas estaduais, e onze a mais que o Treze Futebol Clube, que possui apenas quinze títulos de campeão paraibano e que lidera, junto com o Campinense, ambos de Campina Grande, o grupo dos seus maiores rivais diretos aqui na Paraíba. Além disso, o Botafogo Futebol Clube é o sexagésimo terceiro melhor clube do país em participação nos trinta anos de história do Campeonato Brasileiro, segundo o ranking da CBF. Este ranking, que inclui os 120 melhores clube do Brasil, considera as colocações ano a ano nas edições do Brasileirão em que o Botafogo tomou parte e inclui ainda (estabelecendo um peso diferenciado para cada conquista), os títulos que o clube conquistou a partir de 1970, sejam estes títulos estaduais, regionais, nacionais ou internacionais. Veja aí os títulos paraibanos conquistados pelo Belo. Um tetracampeonato (75, 76, 77, 78); quatro Tricampeonatos (36, 37, 38); (47, 48, 49); (53, 54, 55) e (68,69,70); dois bicampeonatos (44, 45) e (98, 99) e mais quatro títulos em anos isolados: 57, 84, 86, 88 e 2003.

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